terça-feira, 1 de julho de 2025

Olha a vida



Às vezes, eu acordo e preciso - parece uma exigência irrenunciável - olhar a vida. Parece fácil, ela está ali, acordada pronta para gastar as horas do dia. Mas não é. Prefiro o não-saber. Sei lá. Me deixa quieto. Olhar a vida. Se estou feliz, se busco a felicidade, onde, quando, em quê? Queria que a vida fosse só o beijo da manhã que recebo e ofereço à minha amada; queria que fosse só o beijo nas crianças que se despedem ao ir para a escola; queria que fosse só o rabinho abanando dos cachorros em me ver logo cedo. Mas não é só isso. A vida me olha sem dizer nada. A vida, a bendita vida faz hora com minha cara. Ela me empurra para o que não quero. Para de empurrar, ora mais! Fico sem jeito com ela me olhando. Mas olhar para ela é mais difícil. Guimarães bem conseguiu olhar para ela e deixá-la sem jeito. Toma distraída. Mas eu, pobre mortal e pequeno escritor, preciso olhar a vida agora. Pera, vamos lá. a vida, como diria Abujamra é...bom, a vida é...é....é isso aí, que a gente vai dando conta, que a gente vai buscando separar, quase todos os dias, dos escombros de uma humanidade sombria e vazia. 

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